Medicina Hospitalar
Sobre Medicina Hospitalar, hospitalistas, qualidade assistencial, segurança do paciente, erro médico, conflitos de interesses, educação médica e outros assuntos envolvendo saúde, política e cotidiano.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
Cuidado para "abordagem multimodal" não acabar ajudando mais aos grupos profissionais do que aos pacientes.
2. O multimodal, entretanto, pode esconder maneiras perversas de acomodar interesses, servindo para apaziguar zonas de tensão que, pelos pacientes, devem existir; quando ignora que um dia do paciente tem 24hrs e que ainda deve acomodar uma boa parcela do tempo para sono de boa qualidade, cria um potencial problemão organizacional para a pessoa e sua rede de apoio.
terça-feira, 21 de novembro de 2023
No Brasil, gerentes ou coordenadores médicos de qualidade/segurança, quais sejam suas origens, ainda pecam em reconhecer qualidade e segurança. São vistos fazendo escalas, organizando férias, buscando substitutos para licenças saúde, liderando discussão sobre comprar um aparelho de VMNI ou um de ecografia, e outras tantas coisas do gênero, algumas delas feitas por assistentes administrativos lá.
quarta-feira, 8 de novembro de 2023
Se você é um paciente, fuja de enfermarias onde há um médico diferente a cada dia!
Artigo primeiramente publicado em Saúde Business.
Duas são confusões frequentes na discussão sobre Medicina Hospitalista (MH). Uma é a interpretação errônea de que hospitalista é médico de Time de Resposta Rápida (TRR). A outra é sobre plantões.
A primeira já discutimos algumas vezes: em Saúde Business e aqui. O mais bizarro desta confusão é que justamente a pessoa que cunhou o termo hospitalista e é considerada a grande referência mundial desta área de atuação médica faz críticas fortes aos TRR’s: veja aqui.
A segunda passa a ser o enfoque de nosso texto, a partir daqui:
Como os conteúdos em inglês sobre hospitalistas geralmente empregam as palavras “shift” e “schedule”, muitos que os leem percorrem atalho cognitivo e inferem que está completamente Ok organizarem hospitalistas brasileiros em modelo com um médico diferente a cada dia, em “escala de plantão”.
Esta interpretação equivocada decorre de duas situações:
1. Da confusão com TRR – e em TRR’s não há tanto problema em alocar um profissional diferente a cada dia em razão de objetivo primário distinto: é atendimento de intercorrências, não é coordenação do cuidado;
2. Da não observação atenta do significado de “shift” e “schedule” no modelo hospitalista por muitos considerado benchmarking internacional:
Apesar de existirem hospitais norte-americanos com programas de MH organizados com um médico diferente a cada dia, é realidade de hospitais ruins, de enfermarias pouco atentas à qualidade assistencial e à segurança do paciente.
Definitivamente NÃO é assim que atuam os hospitalistas de Wachter, na UCSF (cujo programa conheci in loco nos já distantes 2007), ou o hospitalista Aaron, em Denver, (cujo programa conheci em 2011); ou o hospitalista Joe, em Boston(conheci em 2015); ou o hospitalista Matthew, em Chicago(2019); ou o hospitalista Efren, em Miami e da foto abaixo; ou qualquer outro hospitalista de destaque que já conheci.
Acontece que “shift” e “schedule”, para eles, não significa um médico diferente a cada dia, muito pelo contrário. Costumam organizar-se em blocos, como se “rotinas em blocos”, que podem representar intervalos de 7 ou 14 dias (a depender dos tempos médios de permanência dos pacientes nas respectivas enfermarias). Dessa forma, os bons centros buscam, ao máximo possível, garantir continuidade e que, durante o período diurno, cada paciente tenha o contato com o menor número de hospitalistas possível.
Em um mundo de fantasia, pensado apressadamente por quem leu e está atualizado sobre prevalência e relevante impacto de erros de transferência e de troca de informações nos hospitais, os pacientes ficariam sempre no mesmo lugar na organização, e seriam cuidados por um 01 único médico e 01 único enfermeiro. Mas este mundo é surreal: ignora ritmo circadiano e a importância do trabalho em equipe frente à complexidade da Medicina contemporânea, entre outras armadilhas. Qual profissional da saúde quer um mundo ou hospital assim?
Ao admitirmos que algumas transições são necessárias, uma pergunta razoável seria se é necessário ter tantas delas no cuidado à saúde. A resposta é sim e não: turnos demasiadamente longos de trabalho estão associados a erros secundariamente à fadiga; transições estão fortemente relacionadas a eventos adversos. É na busca de um equilíbrio que todos os bons programas de MH buscam longitudinalidade / atendimento continuado diuturnamente, deixando as transições para os entrelaces como os turnos das noites, por exemplo.
Equilíbrio, em uma última instância, seria pautar o possível, com o paciente no centro da discussão. Passa longe de pautar modelos de assistência médica nos hospitais onde as escalas de cobertura são confeccionadas com foco principal na conveniência de médicos, muitas vezes sem disposição para atuar na casa mais do que 1-2 vezes por semana.
Materiais complementares:
Crítica ao cuidado baseado em plantões
Qual a melhor escala para distribuição de hospitalistas?
Trabalho em equipe e comunicação no ambiente hospitalar: hospitalistas e outras ferramentas
sábado, 15 de julho de 2023
quinta-feira, 13 de julho de 2023
Saúde Baseada em Valor! VBHC! Mas Valor PARA QUEM exatamente?
No início do movimento no Brasil em defesa da promoção do hospitalista, eu não apenas falava em compartilhamento de risco. Eu pedia para ser o "ratinho das pesquisas". Oferecia-me, e a meu grupo, para experimentar novos modelos.
Ainda não tenho conclusão final sobre a iniciativa acima, mas possuo reflexões para compartilhar:
- Há um problema conceitual grave nesta ação. Desconsideram que um pool de pacientes em tratamento sofre desfecho de igual forma, mesmo que a droga seja maravilhosa. Reforça a falácia de que remédio tem ação dicotômica.
Aí você poderia responder: "não desconsideram não! Até escrevem que "em alguns deles o medicamento pode não surtir o efeito desejado". Questão é que não se trata de uma falha exatamente: tratamento dessa natureza costumam ser mesmo "pílula de probabilidade" (apenas).
Não é falha de uma droga que o paciente teve um evento futuro a despeito da droga. Nenhuma elimina completamente risco futuro. Portanto, é uma regra baseada em uma espécie de mentira clínica. Ainda mais que muito do que funciona (no presente caso, previne) não necessariamente está relacionado ao medicamento: há normalmente sortudos no grupo controle também. É definitivamente uma regra baseada em mentira clínica.
- Segundo, isso poderá estimular uma espécie de monopólio?????
- Terceiro: se a moda pega e passa a incorporar medicamentos ineficazes ou de baixo valor, em cenários de prevenção de eventos infrequentes especialmente, reconhecendo que usualmente a conta final final é repassada para um terceiro (não precisa dizer quem é, né?!), não vai acontecer de hospital e farmacêutica inverterem eventualmente os papéis, deixando a receita que de fato impacta ser por eles próprios dividida? Atentem-se que nesta "inovação" o hospital muito provavelmente segue na figura de 'varejista de insumos', farmacêutica e hospital seguem negociando valores, sendo o verdadeiro pagador o plano de saúde ou o paciente privado. Não?