quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Melhoria de processos tem muito de "simples" vontade...

... e a ausência disto por corroer cultura institucional e deixar cicatrizes por longo prazo!

Neste contexto, lembro de recente tentativa em um hospital de otimizar o processo entre prescrição de sonda nasoentérica e administração de dieta.

Interessante seria fazer isto desonerando o médico - um profissional tão caro - de atribuições das quais pudesse ser substituído, preferencialmente automatizando o processo, eventualmente terceirizando a ação para outro profissional.

Aprendi isto com o engenheiro de produção carioca Felipe Espindola Treistman, quando trouxe, a meu convite, a seguinte provocação aos participantes do Safety2014: "Podemos aprender algo com os hospitais indianos?”"

Tendo realizado uma missão técnica na Índia, apresentou informações e dados muito interessantes:

– O grupo Aravind realiza sozinho, em um ano, mais do que a metade de todas as cirurgias oftalmológicas realizadas no sistema inglês. A um custo muitíssimo menor do que no NHS.

– Nada disto seria importante se houvesse mais eventos adversos. No entanto, os resultados lá são melhores também neste quesito.

Quais foram algumas características observadas por Felipe dos hospitais indianos de referência visitados?

– Possuem processos altamente padronizados;

– Todos os profissionais (inclusive médicos) atuam em dedicação exclusiva;

– O trabalho do médico é focado nas tarefas mais complexas ou que agregam mais valor, em paralelo ao aumento da participação de enfermeiros, técnicos e outros profissionais (escrevi recentemente mais sobre isto em O Ato Médico e os hospitalistas);

– Distribuição dos profissionais baseada em previsão confiável da demanda e, portanto, variável;

– Há flexibilidade de alocação dos médicos (imaginemos um serviço de emergência como o brasileiro: em nome da eficiência, não houvesse pacientes no setor de graves, o médico ali posicionado passaria a atender “nos consultórios, colaborando para o encurtamento das filas e otimização dos tempos);

– Executam intensa análise de indicadores de produtividade e qualidade.

Mas, voltando a questão da tentativa em um hospital de otimizar o processo entre prescrição de sonda nasoentérica e administração de dieta, esbarrei não foi em necessidade de tecnologia de alto custo, ou grande complexidade da proposta. Esbarrei essencialmente em vontade da média gestão e falta de apoio da alta. Em argumentos não acompanhados de dados mensurados - meras opiniões, portanto -, tais como: "irá aumentar tempo de jejum" ou "radiologia não irá conseguir".

Simplesmente discutir o assunto era visto como gerador de calor, imaginem o que foi tentar provocar as mudanças.

Recentemente estive na Capital Federal convidado pela gestão do Hospital Brasília para direcionar tempo de hospitalistas para atividades de maior valor. O que seria maior valor? Evitar o esquematizado abaixo:


Traduz idas e vindas, e, principalmente, grande desperdício de tempo e muita dependência do médico.

Aí vem o HCPA, através principalmente do grupo da CCIH, dentro de protocolo multimodal para atacar desnutrição como contribuinte para pneumonias nosocomiais não associadas à VM, e, com muito pouco trabalho e calor, sai do contexto ilustrado acima para outro com processos mais compactos e enorme redução de jejum.


Entre outras ações, fizeram funcionar uma solicitação automática do RX de posição concomitante à prescrição da sonda, obtiveram agilidade da radiologia para emissão dos laudos, instrumento usado pela enfermagem para liberação das dietas, garantindo ainda a ocorrência disto imediatamente após um registro no sistema, potencial importante ferramenta de gestão de risco jurídico também.

É possível então! Mas simples vontade é algo distante de simples.

Sobre uma recente experiência em Brasília

ARTIGO RELACIONADO AO CLICAR NA IMAGEM

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